Apresentação:
Mais que conquistas, os avanços científicos da Medicina nos últimos anos, as facilidades crescentes nas tecnologias de informação e comunicação significam grandes desafios para os profissionais de saúde e para os seus pacientes. Sobrecarregados com tanta informação, com frequência se veem confundidos por propagandas enganosas de efeitos benéficos exagerados de medicamentos e procedimentos. Outras vezes deixam de valorizar informações e novidades relevantes e importantes, perdidas no vasto mundo da internet e do Google.
Para enfrentar esse desafio ao longo da carreira médica, autoridades mundiais recomendam o desenvolvimento de competências específicas fundamentais para saber fazer perguntas diante de problemas do dia-a-dia e estudar em fontes confiáveis. Com isso, os profissionais poderão “garantir que os pacientes e suas famílias estejam informados sobre os riscos e os benefícios de cada opção de tratamento no contexto da melhor evidência e das diretrizes.” O médico moderno deve, ainda, participar de comunidades envolvidas “no desenvolvimento de sínteses de evidências para os seus pares”, numa atitude de cidadania profissional. São competências como essa que o curso “Prática em Saúde Baseada em Evidências”(PSBE) tem por objetivo facilitar.
Em sintonia e em parceria com os melhores grupos mundiais envolvidos na produção e difusão da PSBE, os organizadores agregam experiências locais e contam, hoje, com uma comunidade crescente de colaboradores motivados pela vontade de colaborar na melhoria contínua do cuidado à saúde. Utilizamos a metodologia GRADE, que se consolidou como referência global, tendo sido adotada por mais de 80 organizações respeitadas mundialmente, incluindo a própria Organização Mundial de Saúde, a Colaboração Cochrane, o UpToDate. Nessa metodologia, a compreensão da qualidade do conjunto das evidências, no que diz respeito à confiança na estimativa dos efeitos demonstrados sobre consequências que importam para os pacientes é o passo inicial para construir recomendações para a prática. A metodologia facilita a definição de prioridades, o posicionamento diante de incertezas, tão frequentes, e a decisão compartilhada envolvendo pacientes, profissionais e gestores.
Objetivo principal:
Promover o desenvolvimento de competências centrais para a PSBE, das bases para a boa utilização das evidências no cuidado de pacientes às habilidades essenciais para o ensino, disseminação e a implementação.
Objetivos específicos:
Ao final do curso os participantes deverão:
- Conhecer os princípios fundamentais da PSBE para a tomada de decisões no cuidado dos pacientes;
- Utilizar métodos de análise crítica que permitem reconhecer evidências confiáveis, a partir da avaliação do risco de viés nos estudos clínicos;
- Compreender conceitos estatísticos essenciais, familiarizar-se com a diferença entre estatisticamente significativo e clinicamente importante;
- Compreender medidas de efeito relativo e absoluto de uma intervenção terapêutica sobre desfechos importantes para os pacientes, desfechos substitutos e desfechos clínicos;
- Utilizar de sistemática apropriada para avaliar a confiança que se pode ter nas evidências que embasam a utilidade de um teste diagnóstico, de uma informação prognóstica ou guia de predição clínica;
- Compreender as informações chave para identificar os riscos e benefícios dos exames rotineiros de rastreamento (screening).
- Reconhecer que um conjunto de evidências que embasa uma recomendação para a prática pode ter qualidade alta, moderada, fraca ou muito fraca; é essa qualidade que define a confiança que podemos ter em uma informação.
- Reconhecer que evidências científicas são essenciais, mas não suficientes para a definição de recomendações a serem seguidas nas decisões clínicas.
- Colaborar e exercer a liderança compartilhada para conhecer, facilitar a compreensão, a difusão e a implementação das evidências científicas nos serviços de saúde.
- Participar de grupos e comissões encarregadas de elaborar recomendações, diretrizes ou protocolos de cuidado.
- Participar de auditorias clínicas para promover ciclos de melhorias nas unidades de saúde.
Público alvo
- Profissionais de saúde em geral, preceptores e residentes.
Carga horária e duração:
- Carga horária total: 44h,
- Duração: 4 meses
- Carga horária presencial em atividades de plenário: 20h (2 sessões de 8 h e 1 sessão de 4 horas)
- Carga horária em atividades de aprendizado individual auto-dirigido: 24h (16 sessões de aprendizado utilizando plataforma digital).
Metodologia:
- Dois minicursos, baseados em exposições interativas, realizados aos sábados.
- 16 Sessões de aprendizado individual auto-dirigido, utilizando textos, vídeos, questões e referências, para serem concluídos no período de duração do curso.
- Seminário de conclusão: apresentação de experiências reais e debates sobre como o conteúdo do curso deve se traduzir em ferramentas para a utilização no cotidiano dos profissionais.
Conteúdo programático:
Minicurso 1 e Sessões de Aprendizado à Distância 1-8:
Evidências para orientar as decisões sobre os melhores tratamentos para o paciente
- Princípios da Prática em Saúde Baseada em Evidências e contextualização histórica
- Análise crítica de ensaios terapêuticos: risco de viés, erro sistemático, erro aleatório, significância estatística, intervalos de confiança, estimativas de efeito: risco relativo, risco absoluto, hazzard, curvas de sobrevida, número necessário ao tratamento (NNT).
- Análise crítica de revisões sistemáticas e metanálises de ensaios terapêuticos: credibilidade e confiança na estimativa dos efeitos.
- Metodologia GRADE: Risco de viés, inconsistência, imprecisão, viés de publicação, dados indiretos. Recomendações fortes e recomendações fracas.
- O modelo 4S de fontes de evidências e conhecimento.
- Evidências sobre danos de tratamentos e estudos observacionais.
- Diretrizes e protocolos
- Definição de prioridades.
Minicurso 2 e Sessões de Aprendizado à Distância 9-16:
- Análise crítica de evidências sobre prognóstico
- Análise crítica e utilidade de guias de predição clínica: derivação, validação e impacto
- Análise crítica de estudos de diagnóstico: Desfechos críticos para recomendar um teste ou uma estratégia diagnóstica.
- Razão de chances, sensibilidade, especificidade, razão de probabilidades, área sobre a curva.
- Análise crítica de evidências sobre screening: superdiagnóstico, desvio do tempo zero.
- Princípios e ferramentas para a promoção da decisão compartilhada.
- Protocolos e Auditorias clínicas
- Aprendizado com experiências mundiais de mudanças de práticas arraigadas alavancadas por lideranças clínicas e baseadas em evidências.
Seminário de conclusão:
- Exemplos de experiências de construção de protocolos, auditorias clínicas e ciclos de melhoria pelo aprendizado.
Avaliação
- Frequência nos 3 encontros presenciais.
- Realização dos exercícios e atividades do da plataforma de aprendizado à distância.
Bibliografia e recursos didáticos:
1. Recursos do Portal "Saúde Baseada em Evidências" do Ministério da Saúde (http://www.psbe.ufrn.br/)
2. Recursos do site:
3. Guyatt G, Rennie D, Meade M, Cook D: User’s Guides to the Medical Literature. A Manual for Evidence Based Practice. 3rd Edition. JAMA Evidence, McGrawHill, 2014.
4. Cullum N, Ciliska D, Haynes RB, Marks S. Enfermagem Baseada em Evidências. Uma Introdução. Editora Artmed, 2010
Realização:
- HC-UFMG (Gerência de Ensino e Pesquisa, Centro de Extensão e Núcleo de Avaliação de Tecnologias)
- AREMG: Associação de Apoio à Residência Médica de Minas Gerais
- Grupo Mais Evidências